quarta-feira, 25 de março de 2020

O dia em que morreu uma árvore


Ontem o dia de isolamento começou com morte e destruição e não foi pelo efeito do vírus.
Atrás da minha casa há uns lotes de terreno para construir mais prédios e casas. Há dias que as máquinas os andam a preparar para começar os trabalhos de fundações. O barulho é muito. Passaria ao lado dele se não estivesse o dia todo em caso devido ao isolamento. Assim ele entra pelos meus ouvidos e perturba a minha tranquilidade. Não há obras sem transtorno. Eu entendo.

O que não entendo é o sacrifício de uma árvore com requintes de selvajaria mecânica. Queria encontrar um termo melhor, mas falta-me o léxico. É mesmo uma imagem dura a de uma máquina a despedaçar, sem dó nem piedade, um pinheiro de porte médio. 

Recomendar-se-ia um corte no tronco pela base, mas isso leva mais tempo. É o que temos.
Mas na mesma linha de vista também me faltam justificações para perceber se faz sentido andarem os trabalhadores tão juntos uns aos outros, o que é normal numa obra feita numa circunstância também ela normal. Enfim. Não tenho de perceber tudo o que está à minha volta.

Junto às minhas imprecisões a perceção das notícias que leio na comunicação social. Há uma que se destaca. O governo vai gastar 9,5 milhões de dólares na compra de 500 ventiladores. Excelente notícia tendo em conta a realidade do momento. Espera. O fornecedor causa-me surpresa. A China, o mesmo é dizer o partido comunista chinês, é quem nos vai fornecer a maquinaria para o nosso Serviço Nacional de Saúde salvar vidas. Sim, eles mesmo. Exportaram o problema. Fazem o mesmo com a cura. Mas há uma diferença que faz toda a diferença: o problema foi oferecido, grátis. A cura custa para já 9,5 milhões de dólares fora os muitos, igualmente milhões, que a pandemia está a custar ao Estado, às empresas, às famílias, a todos nós. Este é o partido comunista chinês que só causa admiração a incautos. Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Oito dias desta coisa a que chamam isolamento


Faz hoje, dia 23 de Março, oito dias que me encontro em casa. Isto significa não ir todos os dias ao escritório como fazia antes de surgir todo este problema da pandemia. Evito sair à rua. Saio o menos possível e sempre com um objectivo claro sem alternativa. Exemplos? Comprar comida. Aliás, não tenho de momento motivações para adquirir alguma coisa que não seja comida para nos mantermos em casa a salvo, partindo do princípio que é possível, do vírus e da pandemia.

Não posso dizer que estou aborrecido ou entediado por estar tantos dias em casa. Eu gosto de estar em casa e encontro sempre motivos para ocupar o tempo. Pode ser uma trivialidade qualquer como ver televisão. Mas é, pelo menos até agora, normal e fácil encontrar o que fazer.

O que sinto falta? Das coisas normais do dia a dia. Muita falta? Não, apenas falta. Tenho o hábito de me adaptar às circunstâncias, mesmo que sinta o desassossego normal de procurar o que não tenho. Talvez ainda seja cedo para sentir realmente falta de alguma coisa em concreto. O resto tenho. A família que não está presente todos os dias na minha vida, vejo-a e ou ouço-a à distância. Não é a mesma coisa. A situação que vivemos também não é a mesma que tivemos até hoje.

Da janela que é a minha televisão e o meu computador vou recebendo as notícias que chegam do país e do mundo. Preocupantes? Sim, bastante. Está a morrer gente que supostamente não devia morrer já, não fosse o vírus importado da China. Sim, para mim o vírus é chinês. Não vejo qual é o problema de o reconhecer. Não sei o suficiente para distinguir como surgiu e se isso foi um processo acidental ou talvez não, mas a fonte, a origem é conhecida.

O que me resta? Não sei. Ninguém sabe. Sinto-me bem. Os meus estão bem. Estou em casa e tenho a possibilidade de me manter activo no meu trabalho o qual foi bafejado pelos benefícios da tecnologia e me permite continuar a laborar como se nada se passasse. Pelo menos para já.

Hoje foi mais um dia. Amanhã vem outro. Apenas isso, para já. Um dia de cada vez.